Bullying/Wilwerwitz. Família de menino português quer deixar o Luxemburgo
Bullying/Wilwerwitz. Família de menino português quer deixar o Luxemburgo
A mãe da criança, Cláudia Reis, disse a Rádio Latina que a casa já está à venda. Querem voltar para Portugal e um dos argumentos é a infelicidade e os problemas que o menino tem por causa do bullying de quem tem sido vítima nos últimos dois anos.
De acordo com a mãe do menino, agora com 11 anos, o bullying começou em janeiro de 2021. Houve agressões na Escola Fundamental Schoulkauz, em Wilwerwiltz, e sobretudo no autocarro que faz o transporte escolar. A criança foi agredida ao ponto de ficar com nódoas negras, e toda a situação fez com que começasse a apresentar sintomas de ansiedade. Dores de barriga, noites mal dormidas, choros frequentes e nervos, que, no ano passado, levaram o pediatra a prescrever-lhe duas semanas de baixa. Os pais abordaram os professores, a comuna e a até a empresa dos autocarros. Desesperados, apresentaram queixa à polícia.
Depois de o caso ter sido divulgado pela Rádio Latina, em outubro, algumas medidas foram tomadas. As crianças envolvidas no caso de bullying passaram a ter lugares fixos no transporte. Segundo Cláudia Reis, uma professora chegou também a estar presente no autocarro. Mas, segundo conta, foi sol de pouca dura.
Em declarações prestadas à Rádio Latina, agora, sete meses após a divulgação do caso, Cláudia diz que as agressões no autocarro continuam. “Há poucos dias [os meus filhos] chegaram a casa assustados e incrédulos com a situação”, diz. Afirma também ter conhecimento de casos de agressões na ‘maison relais’. Uma criança terá mesmo acabado com um braço partido num desses episódios.
“O meu filho mudou completamente. Está muito transtornado”
Mais de dois anos após as primeiras agressões contra o filho, Cláudia Reis diz que o filho “mudou completamente”. “Ele está muito transtornado, têm sido dias difíceis com ele em casa. Continuamos no psicólogo porque não vemos soluções possíveis. Já temos a casa à venda para irmos embora para Portugal porque ele pede para ir”, confessa.
Cláudia frisa que na escola a situação melhorou e que não tem havido episódios. No entanto, há cerca de um mês e meio o menino de 11 anos voltou a ser agredido e insultado no autocarro. “Chegou a casa e fechou-se no quarto a chorar, inconsolável”, conta acrescentando que ele nunca tinha tido uma crise de choro assim. “Tenho de recorrer ao psicólogo com frequência porque ele está muito difícil. Já o vi a puxar os próprios cabelos, a dizer que um dia foge de casa. Muito difícil. Ele ficou muito transtornado”, conta.
Os pais do menino pediram ao psicólogo que fizesse uma declaração do estado psicológico do menino. “Faço questão de mostrar o certificado à escola quando chegar o dia de sair do país”, diz a portuguesa. A avaliação psicológica põe a nu problemas ao nível do desenvolvimento afetivo e do autocontrolo. Dá ainda conta de um aumento nos últimos tempos das dificuldades emocionais da criança, desde o medo excessivo na escola e no autocarro a problemas ao nível das amizades e das relações com outros.
Cláudia garante que voltar para Portugal não é apenas uma ideia no ar. É “uma decisão tomada”. “Já temos a casa à venda desde fevereiro na internet”. Um dos argumentos por detrás da decisão é a situação de bullying que o filho tem vivido, segundo a portuguesa de 33 anos. “Sim, porque vimos que o nosso filho não se sente feliz aqui. Ele pede para irmos”. Cláudia sabe que isto não significa que em Portugal seja melhor. O “bullying é mundial”, diz. “Mas sei que ele vai sentir-se muito bem em saber que está no país dele. E somos sinceros, o dinheiro não é tudo na vida se não formos felizes. Nós não somos mais felizes aqui. Há muito racismo. E a vida está a ficar muito difícil aqui, muito cara”, afirma. Por tudo isto, a família não optou, primeiro, por mudá-lo de escola ou até mudar de comuna. “Ele está mesmo desinteressado em continuar”.
Ministério diz que não voltou a ser contactado pela família
Questionada sobre o papel do Ministério da Educação em todo o caso, esta mãe de três filhos não tem dúvidas de que o ministério poderia ter feito mais. Continua a defender a presença de um adulto no transporte escolar.
Confrontado pela Rádio Latina com o facto de a família ter intenção de deixar o país, o Ministério da Educação diz que, “nestes últimos meses, nenhuma queixa sobre a situação de mobbing foi formulada pelos pais do aluno em questão, nem ao professor nem à direção. Os pais não voltaram a evocar o assunto do mobbing”, pode ler-se no e-mail que recebemos.
Cláudia Reis, o marido e o filho mais velho chegaram ao Grão-Ducado em 2013. Vivem há dez anos no país, onde tiveram outros dois filhos. Agora, a família tem a casa à venda com o objetivo de voltar a Portugal, país natal.
Artigo: Diana Alves | Foto: Marc Wilwert