30 anos de história Rádio Latina na voz de todos os seus diretores
Radio Latina 7 11 min. 05.10.2022 Do nosso arquivo online
Comemoração

30 anos de história Rádio Latina na voz de todos os seus diretores

Comemoração

30 anos de história Rádio Latina na voz de todos os seus diretores

Radio Latina 7 11 min. 05.10.2022 Do nosso arquivo online
Comemoração

30 anos de história Rádio Latina na voz de todos os seus diretores

A Rádio Latina celebra esta quarta-feira 30 anos de existência. Foi fundada em 5 de outubro de 1992 num Luxemburgo onde os portugueses eram, e continuam a ser, a maior comunidade estrangeira residente no país.

No início da década de 90, as televisões por cabo, os telemóveis e a Internet eram uma miragem, e a Rádio Latina tornou-se rapidamente num importante elo de ligação dos portugueses do Grão-Ducado com as suas língua e cultura. Foi, – e continua a ser – um importante meio de informação sobretudo em língua portuguesa a favor da integração de todos os lusófonos no país de acolhimento, graças às notícias em português de toda atualidade política, económica e social do Grão-Ducado. 

E tudo começou no tempo das rádios piratas. Corria o ano de 91 quando a Nova Rádio, uma estação pirata, que viria a dar origem à Rádio Latina, fechou as portas. Jaime Gonçalves, um dos principais fundadores da Latina, conta que, no dia em que a Nova Rádio – da qual também fazia parte – fechou, houve locutores e colaboradores a comparecerem nas instalações da rádio em lágrimas. Gonçalves e outros portugueses, com o apoio de muitas associações, uniram-se com o intuito de criar uma rádio de expressão maioritariamente portuguesa, profissional e legal. O Governo de então tinha lançado um concurso para atribuir frequências a quatro projetos. Eram cerca de dez os candidatos e o projeto Rádio Latina foi um dos selecionados.

Latina” não é só nome, é a explicação de tudo

Embora o projeto da futura Rádio Latina contasse com muitos dos elementos da Nova Rádio, o nome tinha que ser outro. Trinta anos depois das reuniões em que o nome foi discutido, Jaime Gonçalves não tem dúvidas de que o aspeto ‘latino’ não só batizou a estação, como levou também a que o projeto fosse escolhido. O português de 65 anos conta que o nome ‘Latina’ surgiu porque se tratava de um projeto multicultural, que se comprometia a fazer rádio em várias línguas latinas, sobretudo em português.

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Projeto aceite, a Rádio Latina começou a emitir a partir da Place de France, em Merl, às 6h da manhã do dia 5 de outubro de 1992, data escolhida por se tratar do Dia da Implantação da República, em Portugal. Arrancou com cerca de meia dúzia de empregados e alguns colaboradores, tornando-se na altura na primeira rádio de expressão maioritariamente portuguesa no estrangeiro com capital também maioritariamente português, de acordo com Jaime Gonçalves.

Além de ser um dos fundadores e principais acionistas da Rádio Latina, Gonçalves foi também gerente e presidente do conselho de gerência da estação. Embora continue a ser acionista minoritário, deixou a direção da empresa em 1998/99. Diz que “a rádio foi como um filho”. Dirigiu-a nos tempos livres, enquanto exercia a sua profissão no setor dos seguros, e chegou mesmo a pagar salários do seu próprio bolso, dada a situação precária da estação naqueles primeiros anos. Hoje continua a ouvir as frequências da Latina [91,7 | 101,2 | 103,1 FM] quando pode, orgulha-se de ter contribuído para a aproximação dos emigrantes do país natal e, com uma ou outra mudança, diz que voltaria a fazer tudo de novo.

Jaime Gonçalves trabalhou com Ricardo Botas. Também ele é um dos principais impulsionadores da Rádio Latina. Botas trocou a cidade de Paris pelo Luxemburgo em março de 1991 e foi o responsável pela redação do projeto de candidatura para a obtenção de uma frequência para a Rádio Latina. Na altura estava a reestruturar a Rádio Alfa, em Paris, enquanto diretor de programação.

Durante o período em que dirigiu a Rádio Latina, até 1995 – ano em que regressou à Rádio Alfa para ocupar o cargo de diretor de antena –, chegou a contar com cerca de 50 pessoas, sobretudo voluntários e principalmente provenientes da então estação pirata Rádio Nova, “integrando depois alguns colaboradores da também extinta estação pirata rival Portugal FM”.

Entre as principais conquistas, diz que conseguiu criar uma rádio com notícias de Portugal e notícias do Luxemburgo em português e fazer a ponte entre as primeiras gerações e as seguintes.

No tempo em que as notícias eram escritas à mão

Na memória ficam ainda as condições de trabalho dos primeiros anos. Ricardo Botas lembra que os profissionais não tinham muitos recursos materiais. Havia só um computador e os jornalistas, por exemplo, tinham de ouvir as outras rádios, ler jornais e redigir depois as notícias à mão.

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Começou como técnico e acabou como diretor de antena, o segundo da história desta estação. João Pimentel esteve lá quando tudo começou e saiu em 2017, com 23 anos de ‘casa’. Durante essas mais de duas décadas, viveu e testemunhou muito, incluindo as inovações tecnológicas que transformaram o mundo da rádio.

Começou por trabalhar com as velhas bobines e depois com os MiniDisc. Houve uma altura em que havia novidades tecnológicas a cada 15 dias, conta. Mas estas foram as duas principais formas utilizadas pela ‘Latina’. No início dos anos 2000, Pimentel assistiu a uma informatização global de todo o processo e, consequentemente, a uma nova forma de fazer rádio. Nos tempos das bobines, “era o sistema D, o sistema do desenrasque”, brinca. Era preciso desbobinar - esse verbo com pouco uso hoje em dia. Embora os computadores tenham absorvido muito do trabalho das gentes da rádio, o ex-diretor de antena não considera que se tenha perdido magia. Pelo contrário, “passámos a poder fazer muito mais”.

“Estamos de volta”, o primeiro slogan da rádio que deixara de ser pirata

Mas recuemos novamente no tempo. João Pimentel foi uma das vozes que saíram dos rádios dos portugueses do Luxemburgo naquela manhã de 5 de outubro de 1992. A emissão começou às 6h, mas para Pimentel, na altura com 30 anos acabados de fazer, o dia já tinha começado há muito. Recorda que, nessa noite, ele e Ricardo Botas não pregaram olho devido à ansiedade e ao peso da responsabilidade por já não trabalharem numa rádio pirata. “Estamos de volta” foi o slogan que marcou o arranque do projeto.

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Luís Barreira foi o diretor que mais tempo esteve à frente da Rádio Latina (em 2010 partiu para a reforma). Sociólogo e acionista de uma empresa de engenharia elétrica em Portugal (Tecnoprojeto), Luís Barreira viria a entrar para a Rádio Latina em 1993. Mas foi em 1995 que sucedeu a Ricardo Botas.

Encontrou a rádio em “falência técnica, com uma audiência média de apenas cerca de 10 mil ouvintes”, com poucas receitas publicitárias e a “sobreviver com recursos próprios”.

Diz que evitou o fecho da rádio por duas vezes e, com a transição para a era digital, reinventou, investiu em novos equipamentos e formou os colaboradores.

A rádio que ajudou a trazer produtos portugueses para as prateleiras dos supermercados

Olhando para trás, o desafio e conquista que lhe deu mais prazer foi conseguir convencer os supermercados e os bancos a fazerem anúncios na Latina. Uma forma de aumentar as receitas e de trazer produtos de Portugal para o Luxemburgo.

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Já na primeira década do ano 2000, mais precisamente em 2009, Luc Wagner assume os ‘comandos’ da Rádio Latina. Para este primeiro e até agora único luxemburguês a dirigir a ‘Latina’, a ida para a rádio deve-se a um conjunto de circunstâncias.

Wagner trabalhou cerca de dez anos na RTL luxemburguesa, tanto na rádio como na televisão. Em 2009 trabalhava na tipografia do grupo de comunicação social Saint-Paul Luxembourg, do qual a ‘Latina’ fazia parte até o grupo ser comprado pela Mediahuis Luxembourg, em 2020, já depois da saída de Luc Wagner). E foi nesse ano que a rádio começou a ‘busca’ por um novo diretor para substituir Luís Barreira.

Durante os seis anos em que Luc Wagner geriu a Rádio Latina, até finais de 2015, nunca perdeu de vista os objetivos que tinha de alcançar: dar continuidade e desenvolver a rádio, mantendo-a sempre próxima da comunidade portuguesa e garantir o equilíbrio orçamental.

Mudar e manter a essência: o desafio

Luc Wagner confia que fazer mudanças, como alterar a programação, numa rádio como a ‘Latina’, não é coisa fácil porque o auditório é muito apegado aos seus hábitos e também porque a essência da estação tinha sempre que ser mantida.

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O atual gestor da Rádio Latina é José Campinho, que sucedeu no cargo a Luc Wagner no final de 2015. Campinho trabalhava para a Amazon Europa, enquanto gestor de media, quando aceitou o desafio para gerir a Rádio Latina, mas também o jornal Contacto e a revista Decisão, criando o atual pólo lusófono do agora grupo Mediahuis.

Na ‘Latina’, começou então um novo período de modernização, com a compra de novos equipamentos e a mudança de estúdios de Gasperich para Howald.

José Campinho defende que a forma de fazer rádio tem mudado nos últimos anos, apostando-se cada vez mais nos diferentes canais multimédia e está convicto de que nos próximos cinco a dez anos a forma como a rádio chega às pessoas também vai mudar, sendo que a Rádio Latina se está a adaptar para ir ao encontro das novas tendências do mercado da comunicação social.

O dirigente da rádio diz que “ o projeto de transformação digital” vai ser acelerado graças ao Mediahuis – também presente na Bélgica, Países Baixos e Irlanda –, acionista maioritário da ‘Latina’.

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De João Pimentel, o cargo de diretor de antena passou para as mãos de António Torrado. O atual diretor de antena chegou ao Luxemburgo a 1 de janeiro de 2016, vindo diretamente de Portugal, onde trabalhava há 20 anos para a RDP.

Não conhecia a ‘Latina’, mas decidiu aceitar o desafio. Porquê? Por isso mesmo: por ser um desafio. E se para muitos emigrar é um bicho de sete cabeças, para António Torrado não foi assim. Descreve-se como um “europeísta desde sempre” e, apesar das saudades do mar e da família, diz que não lhe custou instalar-se num novo país.

Ao falar sobre a sua experiência na ‘Latina’, o radialista destaca, várias vezes, a equipa com quem trabalha. Diz que o seu maior orgulho desde que aqui está é poder “trabalhar com uma equipa tão pequena e obter tão bons resultados”. Estar numa “rádio que chega a 70 ou 80% do público-alvo é algo que nunca me tinha acontecido”, remata.

Um público fiel e diferente

Sete anos passaram desde que aterrou no frio Luxemburgo e, agora, António Torrado prepara-se para deixar o cargo. Reforma-se em março de 2023, mês em que completa 65 anos de idade, e confessa já sentir saudades não só da rádio, mas também do público. Um público muito fiel e próximo.

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A rádio é feita de gente. Além dos diretores, dezenas e dezenas de pessoas fizeram e fazem com que a Rádio Latina chegue todos os dias à casa, ao carro e ao trabalho dos lusófonos do Grão-Ducado. Do país e não só, já que muitos dos ouvintes ‘levam’ a rádio consigo aquando da merecida reforma em Portugal, por exemplo, escutando a ‘Latina’ através do site www.latina.lu.


OS NOVOS ESTÚDIOS DA RÁDIO
Em Howald.

Nestes 30 anos, a ‘Latina’ teve quatro ‘casas’. Os primeiros estúdios ficavam situados na place de France, em Merl. Seguiram-se depois estúdios na place de Paris e em Gasperich. Desde 17 de novembro de 2021 que a rádio emite desde Howald, no número 60 da rue des Bruyères.

Mas a maior ‘casa’ de todas é o coração dos ouvintes, perdoem-nos a ‘lamechice’. São portugueses, angolanos, cabo-verdianos, brasileiros, guineenses, italianos e espanhóis – a rádio tem programas em diversas línguas para estas comunidades –, que ouvem os programas da ‘Latina’, e a quem dizemos OBRIGADO.


Xavier Bettel agradece à Rádio Latina
O primeiro-ministro, Xavier Bettel, enviou uma mensagem de parabéns à Rádio Latina pelo seu trigésimo aniversário.

O primeiro-ministro, Xavier Bettel, parabenizou a 'Latina', agradecendo o contributo da rádio na divulgação das notícias em português sobre a atualidade do Luxemburgo. Veja o vídeo com a mensagem do chefe do Governo, clicando na fotografia ao lado direito.