Poder pagar com ‘cash’. “O meu seguro não tem de saber que comprei uma Coca-Cola ou tabaco”
Radio Latina 3 min. 29.11.2022 Do nosso arquivo online
Petição

Poder pagar com ‘cash’. “O meu seguro não tem de saber que comprei uma Coca-Cola ou tabaco”

Petição

Poder pagar com ‘cash’. “O meu seguro não tem de saber que comprei uma Coca-Cola ou tabaco”

Radio Latina 3 min. 29.11.2022 Do nosso arquivo online
Petição

Poder pagar com ‘cash’. “O meu seguro não tem de saber que comprei uma Coca-Cola ou tabaco”

Mais de 4.500 pessoas já assinaram a petição de Jorge Simões. O luso-luxemburguês não é contra pagamentos eletrónicos, mas diz que não poder pagar com dinheiro é um atentado à liberdade. Tema vai ao Parlamento.

Mais de 4.500 pessoas já assinaram a petição sobre os pagamentos com dinheiro, lançada por Jorge Simões. Centenas fizeram-no na semana passada, quando um problema técnico no Luxemburgo condicionou os pagamentos e levantamentos de dinheiro com cartão durante várias horas. Por essas e por outras, o luso-luxemburguês quer que o direito a pagar com ‘cash’ seja inscrito na constituição luxemburguesa e que todos os comércios, associações e instituições privadas ou públicas sejam obrigadas a aceitar notas e moedas.

Em entrevista à Rádio Latina, o empresário de 57 anos contou que aquilo que o levou a lançar a petição foi um incidente, há uns tempos, envolvendo um amigo. Devido a um erro, o colega ficou com as contas bloqueadas entre sexta e segunda-feira. “Teve de me pedir 100 euros porque não conseguia fazer nada, nem levantar dinheiro”, conta. Jorge nunca se esqueceu desse episódio, mas a ideia de lançar uma iniciativa concreta surgiu ao ter conhecimento de uma petição pela preservação dos pagamentos com dinheiro na Áustria. Como está a par do sistema de petição pública no Luxemburgo, decidiu avançar. Em menos de uma semana, conseguiu mais de mil assinaturas.

Liberdade e privacidade

Em plena era digital, Jorge Simões defende a continuidade do dinheiro vivo. E por várias razões. A principal prende-se com a liberdade de cada um. Ao pagarmos com cartão, perdemos essa liberdade, explica, alertando que estamos a perder direitos, “uns atrás dos outros”. “O que eu fizer com o meu cartão, o banco está ao corrente. O Governo está ao corrente”, lamenta ilustrando que, se comprar uma Coca-Cola, até a companhia de seguros poderá vir a saber.

Outra das razões tem que ver com os gastos inerentes aos cartões e com os eventuais problemas técnicos associados a cartões e contas bancárias. Recorde-se que, além da anomalia que, na semana passada, complicou pagamentos e levantamentos com cartão, ontem foi a vez do BCEE ser afetado por um problema técnico que deixou os clientes do banco sem acesso so serviço de 'online banking'.

É importantíssimo ter dinheiro no bolso”

O autor da petição pública 2470 considera que “é importantíssimo ter dinheiro no bolso”, até para ensinar os mais novos o verdadeiro valor do dinheiro.

Apesar de tudo aquilo que considera serem vantagens das notas e moedas, Jorge Simões reconhece também que a digitalização de pagamentos permite, por exemplo, lutar contra o crime. O português insiste que não é contra os pagamentos eletrónicos. Muito pelo contrário. Defende, isso sim, que dinheiro e cartões coexistam e que as gerações futuras possam continuar a poder escolher quando querem pagar de uma forma ou de outra.

Português quer que o direito de pagar com dinheiro seja consagrado na constituição

Os mais de quatro mil subscritores da petição não querem apenas que uma lei proteja os pagamentos com dinheiro. A petição vai mais longe. Quer que esse direito seja consagrado na constituição luxemburguesa. Jorge Simões está consciente de que isso implicaria um “trabalho árduo”, mas sublinha que, da mesma forma que é difícil colocar alguma coisa na constituição, é também mais difícil de a eliminar.

O autor da iniciativa popular considera urgente agir. Acredita que, se nada for feito, estamos “pertíssimo do fim do dinheiro” e avisa que se moedas e notas passarem a ser coisa do passado, os bancos vão custar mais.

A petição alcançou nas últimas horas as 4.500 assinaturas necessárias para que o tema seja debatido no Parlamento. Vai estar disponível no site petitiounen.lu por mais dez dias. Só depois disso é que a data do debate será decidida. 

Artigo: Diana Alves | Foto: Shutterstock