Estreia esta quarta-feira o filme “Hors d’Haleine” ('sem fôlego', numa tradução livre para português), do realizador Eric Lahmène, sobre violência doméstica no Luxemburgo e inspirado em factos reais, incluindo testemunhos de mulheres portuguesas e cabo-verdianas.
Não é um uma história verídica nem um filme centrado na violência propriamente dita. É antes uma amálgama de vários relatos que o realizador ouviu ao longo de anos de pesquisa nos centros de acolhimento para vítimas de violência doméstica no Grão-Ducado, os chamados ‘foyers’, como disse à Rádio Latina Eric Lahmène, o realizador de “Hors d’Haleine”.
O filme é centrado em Emma, mulher de um arquiteto, que vai parar a um ‘foyer’, acabando por conhecer e criar laços com mulheres de outras religiões e culturas, que ali vivem com os filhos. De acordo com o realizador, um dos objetivos do filme é mostrar que há vários tipos de violência doméstica, da física à psicológica, passando pela sexual e financeira.
"Hors d'Haleine" é o resultado de anos de uma pesquisa nos abrigos para vítimas de violência doméstica no Luxemburgo, pesquisa que começou em 2017. A primeira vez que visitou um destes centros, ia com uma ideia para outro filme. “Eu e a Lyn estávamos a trabalhar noutro projeto, que era um thriller, algo completamente diferente. E nessa história havia uma mulher que sofria de violência doméstica. E por isso fizemos pesquisas e fomos a um abrigo para falar com as mulheres”. Mas, depois de perceberem que um ‘foyer’ não é necessariamente um lugar sombrio e triste, o realizador e a argumentista decidiram mudar o rumo do projeto e fazer um filme que desmistificasse a vida por trás das paredes de um abrigo para vítimas de violência.
Esperanza, vítima de violência, é uma das protagonistas
O filme tem no elenco vários atores de renome, tais como Carla Juri, Véronique Tshanda Beya, Sascha Ley ou Luc Schiltz e Alessia Raschella. Mas, para uma das protagonistas, "Hors d'Haleine" foi uma estreia. Esperanza Martin González-Quevedo é uma mulher vítima de violência doméstica e é também uma das protagonistas da longametragem que chega hoje ao grande ecrã.
Esperanza foi uma das mulheres com quem o realizador Eric Lahmène e a argumentista Rae Lyn Lee conversaram durante as inúmeras vezes que visitaram os centros de abrigo para vítimas de violência no Grão-Ducado. Os relatos serviram de inspiração para o filme e Esperanza entrou no elenco. Partes do papel que interpreta são baseadas na sua história, outras são ficção.
"Hors d'Haleine" estreia esta quarta-feira no cinema Utopia, em Limpertsberg. É um filme em francês porque, segundo o realizador, é esta a língua comum nos abrigos para vítimas de violência. Será exibido na versão original, com legendas em inglês e alemão.
Violência doméstica fez 260 vítimas em 2023. Sessenta eram portuguesas
A violência doméstica fez 260 vítimas diretas em 2023, isto é, vítimas que as autoridades consideraram precisar de proteção. Entre o total de vítimas, 60 tinham a nacionalidade portuguesa.
Segundo os dados extraídos do relatório anual do Comité de Cooperação entre os Profissionais da área da Luta contra a Violência, divulgado em junho passado, a maioria das vítimas – 204 – são mulheres e 56 homens.
Ao todo, a polícia efetuou 1.057 intervenções por violência doméstica ao longo do ano passado, o que equivale a um aumento de 7,5% face ao ano anterior. No seguimento as intervenções dos agentes, 246 agressores foram retirados do domicílio, número que se manteve estável em relação a 2022.
* O Luxemburgo tem uma linha de apoio para vítimas de violência doméstica. O número de telefone é o 2060 1060 e o endreço de e-mail o info@helpline-violence.lu. Em caso de urgência, contacte o número de emergência nacional, o 113.
Artigo: Diana Alves | Foto: Samsa Film
