Foi concebida em Nova Iorque, correu o mundo nos anos da Guerra Fria e hoje ‘mora’ no Luxemburgo. A conceituada exposição fotográfica ‘Family of Man’, do prestigiado artista Edward Steichen e patente ao público no Castelo de Clervaux, vai ser alvo de estudo pela Universidade do Luxemburgo.
A instituição anunciou que se trata de um projeto de investigação inovador, que “vai explorar novas facetas da exposição” do fotógrafo norte-americano, nascido no Luxemburgo, e “o seu impacto internacional durante a guerra fria”. Além disso, o trabalho da universidade vai também estudar a forma como a mostra foi acolhida no Grão-Ducado, revelando as reações do público luxemburguês na altura.
Usada para apresentar ao mundo o “modo de vida americano”
‘Family of Man’ é composta por 503 fotografias de mais de 200 fotógrafos, captadas em dezenas de países. Foi exibida pela primeira vez em 1955, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa). Depois de passar por 37 países, a exposição assentou arraiais em Clervaux na década de 1990. Aborda os temas da paz, igualdade e humanidade.
Depois do MoMa, a mostra foi gerida pela USIA, a então Agência de Informação dos Estados Unidos, que, em plena Guerra Fria, a usou para “apresentar o modo de vida americano ao público internacional”, embora Steichen a tenha concebido numa ótica pacifista, após as duas guerras mundiais que marcaram grande parte do trabalho do fotógrafo, conta a universidade. Numa altura em que “a União Soviética e os Estados Unidos procuravam expandir a sua influência em vários países recentemente independentes, a USIA terá utilizado ‘Family of Man’ para retratar os ideais ocidentais”, acrescenta.
“Fotografia não é arte”. Quando Luxemburgo torceu o nariz ao trabalho de Steichen
A exposição faz hoje parte do património mundial da Unesco e tem um lugar de destaque no panorama cultural luxemburguês – mas nem sempre foi assim. De acordo com a Universidade do Luxemburgo, em 1952, Steichen teria a intenção de começar a digressão mundial do trabalho no Luxemburgo, o país onde nascera cerca de 70 anos antes, mas as autoridades luxemburguesas ter-lhe-ão desfeito o sonho. “Disseram a Steichen que fotografia não é arte e o país foi riscado da lista”, conta a universidade. Apesar disso, anos mais tarde, após a digressão, a USIA acabaria por doar a coleção ao Luxemburgo, na esperança de que esta se tornasse uma exposição permanente no Castelo de Clervaux.
A investigação da Universidade do Luxemburgo será levada a cabo pelos investigadores Claude Ewert e Emilia Sánchez González, do Luxembourg Centre for Contemporary and Digital History (C2DH), em colaboração com o Centro Nacional do Audiovisual (CNA). Os resultados deverão ser divulgados dentro de três anos através de publicações académicas, uma tese de doutoramento, um romance gráfico e um site.
Vencedor de um Óscar e o ‘pai’ da fotografia de moda
Edward Steichen nasceu no Luxemburgo no ano de 1879. Dois anos depois, a família emigrou para os Estados Unidos. Foi lá que cresceu e viveu. A sua carreira inclui cargos de destaque no MoMa, tendo sido curador e também diretor de fotografia do museu nova-iorquino.
Steichen é considerado um dos pioneiros na fotografia de moda graças às fotografias publicadas em 1911 na revista ‘Art et Décoration’, de mulheres a posar de vestido. Mais tarde viria também a fotografar para as revistas Vogue e Vanity Fair. Num artigo recente, o jornal britânico The Guardian refere-se a ele como o ‘pai da fotografia de moda’.
O artista nascido no Grão-Ducado também deu cartas na sétima arte, Em 1944, escreveu e realizou o documentário ‘The fighting Lady”, que viria a conquistar o Óscar de melhor documentário no ano seguinte.
Edward Steichen está hoje entre os nomes mais importantes da história da fotografia.
Artigo: Diana Alves | Foto: Marc Wilwert